O segredo da aula de tênis

Comecei minha carreira como treinador de tênis muito cedo. Em 1999, aos 16 anos de idade, em um condomínio residencial da cidade de São Carlos-SP, dei minha primeira aula de tênis. O aluno em questão era o Fernando e na época tinha apenas 6 anos de idade. Me lembro que, na noite anterior à aula, quase não consegui pegar no sono, minha cabeça borbulhava com todas as ideias que tinha para a aula, que talvez tenha sido a aula à qual mais dediquei tempo na preparação. Olhando anos atrás, hoje consigo ver que a aula tecnicamente foi muito fraca, mas, mesmo assim, o Fernando continuou sendo meu aluno por alguns bons anos — por que será?
Nesse mesmo ano fiz meu primeiro curso de capacitação para professores de tênis, no qual fui reprovado. Até tirei boas notas na prova teórica, mas minha aula prática foi péssima e acertadamente o capacitador me reprovou. O que começou como uma alternativa para financiar meu sonho de ser um jogador de tênis se tornou de fato minha paixão e minha profissão, pois aos poucos fui percebendo que gostava muito mais de estar na quadra ajudando meus alunos do que treinando e jogando tênis. De lá pra cá, 17 anos, muitos cursos de capacitação (ufa, nunca mais fui reprovado!), muitos livros, graduação universitária, contato com grandes treinadores e muitas excelentes experiências se passaram, e algumas das muitas dúvidas do início da carreira foram sendo transformadas em certezas, crenças absolutas (até que me provem o contrário)!

E é uma dessas crenças que compartilho neste artigo, e duvido que qualquer curso ou qualquer conversa possa me dissuadir desse mantra. Talvez alguns mais antenados ao Tênis+ estejam imaginando que se trata do método de ensino, afinal, trouxemos para o Brasil o programa francês e blá-blá-blá, certo? Não, errado! Óbvio que o método é muito importante e, sim, ele pode ser definidor quanto à eficiência e à motivação do processo de aprendizagem, porém existem jogadores muito bem formados em diversos países ao redor do mundo. Existem excelentes tenistas formados pelas escolas americana, espanhola, francesa, alemã, etc. (Apesar das outras funcionarem, a francesa é a melhor e mais legal de todas, hehe. Mas isso é assunto para outro texto.)
Bom, já que não é o método, então deve ser o conhecimento técnico específico do esporte, a técnica dos golpes, estratégias e táticas do jogo, a psicologia aplicada ao esporte, o conhecimento do funcionamento do corpo humano, etc. Afinal, assim como é impossível um médico realizar um bom atendimento caso ele não domine os padrões do que é considerado saudável ou não para o corpo humano, sintomas e seus tratamentos, é impossível um professor de tênis dar uma excelente aula se ele não tiver domínio sobre os conteúdos e critérios relacionados à aula. Mas, não, ainda não é a isso que me refiro!
Tenho certeza que ter esses fundamentos na ponta da língua é vital para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade, porém existem muitos professores (e médicos também) que dominam os conhecimentos relacionados à sua profissão, mas que infelizmente não são capazes de proporcionar uma boa experiência a seus alunos (e pacientes), não é verdade?
Mas então o que é? Nesta altura do texto talvez você já tenha chegado ao limite da paciência e esteja pensando em fechar o artigo, então chega de criar expectativa. Eu me refiro ao amor!

O maior segredo de uma excelente aula de tênis é ter um professor que ama a oportunidade de contribuir positivamente com seus alunos. Em vários artigos publicados no Tênis+ compartilhamos com vocês a nossa visão de como o tênis é uma ferramenta extraordinária para a formação e desenvolvimento do ser humano, mas assim como o melhor computador do mundo na mão de um leigo em tecnologia seria subaproveitado, a experiência de aprender tênis com um professor que não ama o que faz é jogar pelo ralo grandes oportunidades.
Voltando ao meu primeiro aluno, o Fernando, vejo que a inexperiência que existia era muito menor que a minha vontade de fazê-lo progredir como tenista e evoluir como ser humano, e que os desafios que surgiam serviram apenas de motivação para buscar conhecimento e ser um profissional cada vez melhor.
Levando em consideração toda essa história, quando eu for buscar um professor de tênis para meu filho (Benjamin está com apenas 1 mês de vida), obviamente vou procurar por um professor bem formado (e que utilize a nossa metodologia, é claro), mas acima de tudo vou buscar um professor com brilho nos olhos, que se importe com seus alunos, que se preocupe tanto com sua formação tenística quanto com sua formação como ser humano. Para isso, vou analisar o sorriso em seu rosto, o carinho com que trata os alunos e, finalmente, sua preocupação e habilidade em fazer o Benjamin evoluir — afinal, jogar bem tênis só te garante mais benefícios e oportunidades de vida (conheça os caminhos que o tênis pode proporcionar).

19 de julho de 2016 | Categoria: Novidades, Tênis

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